SAINDO À FRANCESA (Título e tema sugeridos pelo querido Lonha)

Toda vez é a mesma coisa. Grupo de amigos, você chega e tem que dar dois beijinhos em todo mundo. Na saída do evento, repete-se o ritual.

Mas quem foi que inventou esse ritual? Porque essa necessidade de distribuir beijos? Porque os paulistas dão apenas um beijinho e nós, os cariocas, damos 2? Minha sorte é não viver em Minas. Lá são 3!!! A mineira chega na festinha, 50 amigos presentes e um total de 300 beijos distribuídos: 150 na chegada e mais 150 na saída. É de dar dor na bochecha.

Eu digo a mineira, porque pra variar a mulher sai mais prejudicada do que o homem. O homem dá um aperto de mão em outros homens, só tem a obrigação de dar dois beijinhos na mulher, o que pra eles muitas vezes não é nenhum sacrifício. Ou seja, numa festa de casais, os homens distribuem 50% de beijos a menos do que as mulheres. E a gente ainda tem que aguentar uns gordinhos suados que fazem questão de dar dois beijinhos molhados! É assustador ver aquele rosto grande se aproximar, com aquele lábio salivando.

E aqui no Brasil não importa o grau de intimidade. Acabou de conhecer, já manda os dois beijinhos. Nos Estados Unidos, não. Acaba de conhecer, é um aperto de mão. E eu, “brasileira exótica” (na cabeça dos gringos), já esqueci disso várias vezes e parti pros dois beijinhos nos gringos, criando aquela situação incômoda em que das duas uma: ou o gringo te olha desconfortável pela intimidade ou te abre aquele sorriso pensando “ adoro essas brasileiras calientes”. E justo eu, que detesto os dois beijinhos.

Sou a favor do “Oi geral” e do “tchau geral”. Tenho até usado bastante essas modalidades, algumas vezes com sucesso e outras não. Na verdade, meu marido me atrapalha bastante nesse caso, porque ele adora os dois beijinhos, o aperto de mão e teima em não sair à francesa nunca! Aí, muitas vezes, para não passar por mal educada, eu me rendo aos dois beijinhos. Só não dou no garçom porque disfarço, já que o maridão é uma máquina e sai cumprimentando quem passar pela frente.

Os dois beijinhos deveriam valer ouro e ficar guardado para ocasiões especiais. Aniversário, tudo bem, merecem dois beijinhos no aniversariante. Nascimento do filho, intercâmbio e até se a pessoa ganhasse um aumento. Somente ocasiões especiais. Os dois beijinhos sairiam valorizados. Seria bom para a sociedade: “ Nossa, eles estão dando dois beijinhos. Devem estar celebrando alguma ocasião importante” , as pessoas diriam. Mas não, hoje em dia já é automático e o que acontece são duas bochechadas com barulho de beijo. Bochecha pra lá, bochecha pra cá e biquinho. Um horror!