QUARTA FEIRA DE CINZAS

O carnaval passou e me senti na obrigação de escrever qualquer coisa sobre essa comoção nacional. Este ano só vivi uma situação de carnaval: na sexta feira fiquei uma hora presa no engarrafamento na Bartolomeu Mitre, bem no meio de um bloco, com direito a carro chacoalhando e tudo.

Gostei do que vi. Especialmente porque me senti num camarote VIP, já que eu estava dentro do carro com ar condicionado e lá fora estava um calor difícil de agüentar. Fiquei com a sensação de que de alguma maneira estava participando da festa.

Adorei ver que esse ano os foliões se empenharam nas fantasias (mais do que nos anos anteriores), mesmo que fosse apenas com uma tiara na cabeça. Vi muitas fadinhas, piratas, noivas e umas meninas de táxi, que estavam ótimas. Fora os caras que ficam esperando o ano inteiro para virarem mulher, dando nomes como Daphne, Lorena, Sheila... Soltando a franga literalmente. Estranho, mas engraçado.

Percebi que a faixa etária era bem nova, galera de 16 a 20 e pouquinhos. Todo mundo querendo beijar na boca e ser feliz. Tinha gente que passava com cerveja, garrafa de vodka e até Balla 12. A galera não estava pra brincadeira.

Só não consegui identificar qual era o bloco, já que este carnaval foi o recorde de blocos no Rio de Janeiro, especialmente na Zona Sul. Esse ano ficou provado que realmente o carnaval de rua do Rio virou uma febre que veio para ficar.

Basta ter 5 amigos, que já dá para fundar um bloco. O nome, geralmente é o primeiro que vem a cabeça. Aliás, a criatividade do carioca definitivamente é exercida na hora de criar os nomes de blocos, que vão dos mais inocentes aos mais escrachados: "Empurra que pega", "Xupa mas não baba", "Se não quer me dar... empresta", "Bafo da Onça", "Desculpa para beber", "Rola Preguiçosa", "Barangal", "Só Boto se for tudo" e por aí vai...

Fico com a impressão de que não tem mais como escapar. Ficar no Rio e não participar de nada, nem de um bloquinho no engarrafamento, chega a ser triste, vai contra o espírito carioca. É aquela velha história: Se não pode vencê-los, junte-se a eles. E pensar que quando eu estava começando a relaxar e a pensar em improvisar uma fantasia, o carnaval acabou.